Além da dieta, as restrições do estilo de
vida abrangem todo o consumo, inclusive o setor de beleza
Todo
mundo sabe que carne, mel, leite e ovos vem dos bichos e, por isso, são
proibidos no veganismo. O termo, que surgiu oficialmente na Inglaterra em 1944,
se difere do vegetarianismo justamente nesse ponto, pois enquanto as restrições
dos vegetarianos param na dieta, as dos veganos vão além, e não são voltadas
somente à alimentação. Quem segue essa filosofia exclui qualquer bem de consumo
obtido através da exploração animal. A lista é grande e inclui roupas,
cosméticos e, até mesmo, medicamentos.
Em
suma, o modo de vida vegano tem sua ideologia fundamentada em respeito aos
direitos dos animais e rejeita absolutamente todos os itens que contenham seus
derivados. No entanto, no mercado atual, há uma infinidade de produtos
industrializados que levam ingredientes de origem animal e o consumidor nem
desconfia, especialmente no setor de estética. Por isso, é preciso redobrar a
atenção antes de encher o carrinho de compras.
Estilo de vida vegano desperta interesse dos consumidores
De
acordo com uma pesquisa especializada, realizada pelo portal Use
Orgânico, embora apenas 18% dos brasileiros se autodeclarem vegetarianos ou
veganos, mais de 60% afirmam ser simpatizantes de causas sustentáveis, como a
defesa dos animais e do meio ambiente. De acordo com o levantamento, que ouviu
mais de 1.500 participantes de todas as regiões do país, esse fator, associado
à preocupação com a saúde, influencia diretamente nas formas de consumo,
inclusive quando se trata de cosméticos.
O
estudo revela ainda que, na busca por alternativas mais qualificadas, os
produtos com apelo “natural” saem na frente e chamam a atenção deste público.
Para 21% dos entrevistados um item de beleza tem mais valor quando sua fórmula
contém menos aditivos químicos. Além disso, 26,2% considera um cosmético
sustentável quando o mesmo possui o selo cruelty free (não testado em animais),
inclusive a presença do selo é verificada por 67% dos consumidores antes de
efetuarem a compra.
Segundo
o levantamento, atualmente, ainda que haja uma maior conscientização do consumo
impulsionada pela filosofia desses movimentos, são os efeitos benéficos que
essas práticas proporcionam, devido aos ativos naturais em detrimento dos
químicos, que ganham destaque e levam os consumidores a se interessarem por
produtos de origem orgânica e/ou exclusivamente vegetal.
Cruelty-free e Vegano são categorias distintas
A
expressão inglesa cruelty-free quer dizer “sem crueldade” e refere-se aos
testes realizados em animais. Quando uma marca apresenta esse selo – emitido
pelo PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), significa que seus
cosméticos não são testados nos bichos. Mas, ao contrário do que algumas
pessoas pensam, isso não é sinônimo de um produto livre de componentes de
origem animal em sua composição. Ou seja, é possível ser cruelty-free e, ainda
assim, conter esses derivados. Diferente das linhas veganas, que, além de não
realizarem esse tipo de teste, também não utilizam nenhuma matéria-prima de
origem animal.
Natural ou sintético?
A
médica Maria Clara Couto afirma que, pelo fato de ser vegano, muitas pessoas
associam os produtos à categoria “natural”, no entanto não significa a mesma
coisa: “São classificações diferentes, com normas específicas. Os produtos
naturais precisam ter 95% do total das suas matérias-primas provenientes da
natureza, já para os veganos o principal requisito é o respeito aos direitos
dos animais, excluindo testes e ingredientes relacionados a eles. Portanto, um
cosmético vegano pode ser inteiramente sintético e, ainda assim, continuar
sendo vegano” – explica Couto – especialista em dermatologia.
Lista negra
Nas
últimas décadas a indústria cosmética ampliou o leque de produtos oferecidos
para atender a demanda crescente do mercado, especialmente em relação aos
produtos naturais. No entanto, em meio às inovações para satisfação dos
clientes, alguns componentes da fórmula costumam passar despercebidos pelos
consumidores. Confira a seguir algumas das substâncias de origem animal que
podem estar camufladas em diversos produtos de beleza:
Ácido Esteárico
De
origem animal, esse ácido, geralmente, é proveniente da banha do porco ou do
sebo, retirado da gordura do boi ou carneiro. Mas também é possível encontra-lo
em alguns óleos vegetais, como o óleo de coco. É utilizado como agente ligante
e espessante em produtos cosméticos, loções e sabonetes.
Ácido hialurônico
De
origem aviária, derivado da crista de galo, esse ácido é muito utilizado na
área estética como material para o preenchimento de rugas e linhas de
expressão. Mas também existe a versão bacteriana. Por isso, antes de realizar
qualquer procedimento desse tipo, deve ser consultada a origem dessa
matéria-prima.
Almíscar
Essa
substância, obtida a partir dos órgãos genitais de animais, como castores,
lontras, veados, entre outros, já foi amplamente utilizada em perfumarias como
nota de base e fixador. Mas, atualmente, diversas marcas já substituíram essa
matéria-prima por almíscares sintéticos em suas fragrâncias.
Carmim
Esse
corante avermelhado, conhecido também como cochonilha, é extraído dos corpos
secos das fêmeas - especialmente durante a gravidez - de determinados insetos
que se alimentam da seiva das plantas. De acordo com Couto, o pigmento é muito
usado em cosméticos, especialmente na coloração de batons e outros produtos
para a maquiagem em tons de rosa e vermelho. “Entre as principais alternativas
veganas para substituir o carmim, encontramos o suco de beterraba e de urucum,
que possuem uma pigmentação acentuada” – afirma a especialista.
Colágeno e elastina
Encontradas
no tecido conjuntivo dos animais, essas proteínas são amplamente utilizadas em
produtos hidratantes, devido à
função estrutural,
que confere elasticidade e sustentação
aos tecidos, especialmente à
derme. Vale lembrar que, atualmente, também existem versões sintéticas do
colágeno e da elastina. Em caso de dúvidas sobre a origem é possível entrar em
contato diretamente com os fabricantes.
Lanolina
Composta
por ácidos graxos, a lanolina é uma substância de textura cerosa secretada na
pele das ovelhas, como proteção e emoliente para o corpo. A substância possui
ampla utilização industrial, como um agente de hidratação em cosméticos,
produtos para cabelos, unhas e pele em geral. O mercado vegano já oferece
opções com componentes de origem vegetal para substituir a substância
Queratina
Um
dos ingredientes mais famosos para os cuidados do cabelo, a queratina é
facilmente encontrada na composição de condicionadores e shampoos, mas poucos
sabem que sua origem é animal. A substância é extraída da juba, chifres,
cascos, pelos e penas de vários animais e trata-se de uma proteína insolúvel
constituinte da epiderme, unhas, tecidos córneos e esmalte dos dentes. Entre as
principais alternativas para substituí-la estão o óleo de amla e a proteína da
soja.
Tutano e placenta
Tecido
que envolve o feto ou embrião, a placenta, geralmente é derivada do útero de
animais sacrificados. Já o tutano trata-se da medula óssea do boi e é rico em
sais minerais, carboidratos e proteínas. Esses dois ingredientes já estão
caindo em desuso, mas, até algum tempo atrás, eram componentes comuns em
cosméticos, especialmente nos produtos para os cabelos, como shampoos, tinturas
e cremes.
De olho no rótulo
Quem
segue um estilo de vida livre de derivados animais se depara com uma infinidade
de ingredientes para conferir e, para não ter erro, os rótulos são os
principais aliados. Mas, de acordo com Couto, no caso dos veganos é preciso um
cuidado ainda maior, já que as restrições vão além da dieta: “O estilo de vida
vegano requer mais atenção, especialmente em relação aos produtos
industrializados, seja de limpeza, higiene ou beleza. Para se ter ideia, um
cosmético pode ser natural ou orgânico e, ainda assim, conter ingredientes de
origem animal em sua fórmula, além de realizar testes em animais. Já aqueles
que recebem o selo cruelty-free podem estar, ou não, livres desses derivados.
Portanto é necessário se atentar aos componentes do produto, especialmente
quando a fórmula apresentar um ingrediente que pode ser de origem animal ou
vegetal. Nesses casos vale a pena entrar em contato com a marca. No começo
parece uma tarefa complexa, mas depois de algum tempo é possível se
familiarizar e identificar facilmente os componentes da lista negra. Outra
opção também, que pode facilitar ainda mais, é se guiar pelos selos
certificadores de agências regulamentadoras que comprovam a qualidade e
procedência do produto” – explica a especialista.
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