Combinação de
domínios, como autocontrole, empatia e decisões responsáveis, podem prevenir
consequências provocadas pelo mau uso das redes sociais
Uma pesquisa feita pelo Comitê Gestor da Internet
no Brasil (CGI.br) revelou que 52% dos alunos de escolas com turmas de 5º e do
9º anos do ensino fundamental e do 2º ano do ensino médio, localizadas em áreas
urbanas, usaram telefones celulares em atividades escolares no ano passado.
Entre os estudantes do ensino médio, o percentual atingiu 74%. Segundo a
pesquisa TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) Educação 20016, 95% das
escolas públicas têm ao menos um tipo de computador conectado à Internet.
A pesquisa, feita por meio do Centro Regional de
Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo
de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), foi realizada entre os meses
de agosto e dezembro do ano passado em 1.106 escolas públicas e privadas, com
turmas do 5º ou 9º ano do ensino fundamental e/ou 2º ano do ensino médio
localizadas em áreas urbanas.
Os dados mostram também que 91% dos professores
acessaram a internet pelo celular para uso pessoal (no levantamento anterior,
em 2011, eram 15%) e 49% dos professores usuários da rede declararam usar o telefone
móvel em atividades com os alunos, um crescimento de 10 pontos percentuais em
relação ao ano anterior (39%). Entre os estudantes 31% disseram entrar na
Internet pelo telefone celular na escola, sendo 30% entre os alunos da rede
pública e 36% nas instituições privadas.
O uso dos celulares e da internet como ferramenta
para realizar atividades escolares pode também indicar a facilidade da
exposição de jovens e crianças às redes sociais. Para a antropóloga Tania
Fontolan, diretora-geral do Programa Semente, a internet pode ser muito útil
para trabalhar, estudar e transmitir conhecimentos. Entretanto, quando não
utilizada corretamente, pode ser extremamente perigosa, principalmente nas mãos
de crianças e adolescentes.
“Infelizmente, é comum a ocorrência de
agressões virtuais – como o cyberbullying, e outras consequências
prejudiciais às crianças e aos jovens. Por vezes, eles são alvos de ataques ou
até os causadores da ação, já que a imaturidade e a falta de informação para
lidar com uma ferramenta de alcance universal podem causar danos de grande
repercussão”, destaca.
Tania acredita que a instantaneidade das redes
ofusca o entendimento do que é público (o que pode ser compartilhado) e do que
é privado (o que deve ser mantido em sigilo). “Antes, espalhar um boato tinha
consequências menos dramáticas. Agora, uma vez divulgado, não há limite de
tempo e espaço”. Além disso, Tania pontua que o anonimato e a “distância” que o
agressor possui do seu alvo passam a impressão de impunidade. “Temos uma ideia
de falsa proteção e falsa realidade, uma sensação de encorajamento. É muito
mais fácil ofender alguém virtualmente”, diz.
Um outro agravante vem a ser a impulsividade que a
rede social induz. Antigamente, era mais complicado compartilhar um boato ou
espalhar uma notícia. Hoje, basta um click. Tania alerta que falta
discernimento para analisar notícias e boatos antes de dividir com amigos. “As
pessoas não avaliam a questão antes de publicar. A instantaneidade induz ao
impulso, e nisso, amplificamos as consequências do assunto em questão”, diz.
Prevenção
Como a internet é imediata, é preciso avaliar todos os pontos e as consequências: a questão jurídica, a reputação social e o bullying.Para Tania, uma combinação de empatia com decisões responsáveis e autocontrole pode prevenir consequências negativas nas redes sociais. Algumas escolas brasileiras já têm experimentado ensinar a lidar com emoções como as abordadas no Programa Semente – uma metodologia que ensina crianças e jovens a lidarem com as chamadas habilidades socioemocionais.
Como a escola e os pais podem ajudar?
Sabendo que esses jovens estão cada vez mais usando a internet como ferramenta para fazer as atividades escolares e, portanto, estão mais sujeitos a navegar no mundo virtual, é preciso atuar na prevenção. Acredita-se que o amadurecimento é um processo gradual, por isso, trabalhar o emocional da criança o mais cedo possível é o primeiro passo para que ela cresça hábil emocionalmente. Além disso, quanto menor a faixa etária, maior deve o monitoramento do uso das redes, e os responsáveis por isso são os pais, que devem ser o maior exemplo de responsabilidade e empatia para os pequenos.
Os educadores também têm um importante papel nessa
trajetória, que é explicar com dinâmicas e de forma didática as consequências
da irresponsabilidade, e como praticar a empatia. “Tudo isso cria uma atitude
mais responsável diante das coisas. Gera pessoas melhores”, conclui Tania.
Sobre o Programa Semente (www.programasemente.com.br) –
Com uma abordagem moderna e inovadora, o Programa Semente está presente em
escolas brasileiras contribuindo para o desenvolvimento socioemocional de
alunos e educadores. A partir de um material escrito por educadores, médicos e
psicólogos, sua metodologia possibilita que sejam trabalhadas em sala de aula
questões como sociabilidade, autoconhecimento, autocontrole, empatia e decisões
responsáveis, entre outras habilidades, cada vez mais presentes no mundo do
trabalho e nas principais avaliações internacionais de educação, como o PISA. Desta forma, o Programa Semente contribui
para a alfabetização emocional.
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