O
título pode ser chamativo ou exagerado, porém, é um alerta para as questões do
desenvolvimento sustentável atreladas a este tipo de modelo de negócio: o
franchising. Principalmente porque nestes últimos dias muitos colegas, clientes
e amigos estiveram comentando intensamente, postando fotos nas suas redes
sociais e fazendo negócios na maior feira de franquias da América Latina.
Segundo
a ABF (Associação Brasileira de Franquias), no ano de 2017, a feira, em 4 dias,
reuniu 65 mil visitantes e 400 negócios do nosso País e do exterior. Isto só
reforça o importante movimento de crescimento do setor, que, segundo a própria
ABF, mostra que neste primeiro trimestre o segmento cresceu nominalmente 9,4%,
em época de saída da recessão econômica.
Escutei
muitas histórias de colegas e alunos que perderam o emprego e a solução foi
investir o fundo de garantia de anos em um negócio, e nada melhor do que
empreender numa marca já consolidada, com modelo financeiro montado e processos
bem definidos. Ou ainda, tiveram uma ideia, começaram desenvolvendo um negócio,
depois, para poderem crescer, resolveram ser franqueadores e multiplicar o seu
negócio. Sim, franquia é um modelo de negócio que pode ser muito rentável e
vitorioso, seja como franqueado ou franqueador, se gerido, obviamente, com
muito cuidado e dedicação, sem esquecer que sempre, para qualquer negócio,
haverá impactos sociais e ambientais negativos.
A
ABF tem feito um movimento para promover a sustentabilidade nos negócios de
franquias, inclusive, nesta última feira, para incentivar ainda mais,
realizaram novamente o Prêmio ABF Estande Sustentável, que está na sua 7a edição,
além de promoverem de outros prêmios de sustentabilidade ao longo do ano.
O
Sebrae é uma outra fonte de conhecimento para micro e pequenas empresas que
estejam pensando nos seus impactos sociais e ambientais, principalmente dentro
do modelo de franquia que pode ser um ótimo disseminador destas boas práticas.
No site do Centro Sebrae de Sustentabilidade existem diversos modelos de
negócios mais sustentáveis, práticas e cartilhas para o dia a dia, como o
pensamento no ciclo de vida do produto, gestão de resíduos, água, energia,
entre outros.
Fico
abismado quando imagino uma empresa de alimentos que está crescendo
vertiginosamente no mercado com formato de franquia e que em seu famoso manual
não exista nenhuma observação referente à gestão dos resíduos, sejam eles
orgânicos, compostáveis ou recicláveis. Em pleno movimento para a implantação
da Política Nacional de Resíduos Sólidos no País, uma empresa que tem o poder
de multiplicar boas práticas, independente do local aonde ela vá, não tendo uma
linha sobre o tema. Isso sem falar na questão energética e hídrica, quando
vários estados estão com estes problemas, entre tantos outros temas das
questões ambientais.
Outro
ponto é a questão social em que algumas franquias, que se desenvolvem
vertiginosamente, poderiam ir além das normas e regras da CLT. Puxa, será que
estou sendo ingênuo ou sonhador demais? Poderia, sim, trabalhar com questões de
desenvolvimento pessoal, empreendedorismo, liderança, relacionamento pessoal,
entre outras temáticas. Afinal, se franqueado e franqueador investirem nisso,
talvez, realmente o negócio cresça, seja perene e não somente um local com
alto turnover para iniciantes laborais. Além disso, não
podemos esquecer do poder multiplicador de influenciar fornecedores e
distribuidores com as boas práticas do real desenvolvimento sustentável.
Não
posso deixar de colocar aqueles negócios que já nascem com esta vertente, como
as empresas que estão inserindo os orgânicos e a alimentação saudável,
franquias que lavam carro quase sem água, negócios sociais que ajudam pessoas,
entre outras.
Pensar
somente em crescer e multiplicar produz um organismo desagradável que se
espalha pelo planeta e aniquila outras espécies. Espero que este segmento de
mercado, que é o franchising, entenda o poder que possui de replicar processos,
negócios, marcas, produtos e serviços, e que usem este “poder especial” de
multiplicação para melhorar e mitigar os impactos sociais e ambientais que todo
negócio possui. Talvez, quem sabe, eliminá-los e ser um organismo de
regeneração.
Marcus Nakagawa -
professor da graduação e pós da ESPM; idealizador e diretor administrativo da
Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade);
consultor e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de
vida.www.marcusnakagawa.com
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