A moça tem um cortejo de
seguidores e funciona, naquele grupo, como uma professora de História do Brasil
que preferisse o Paleolítico. Ataca as Grandes Navegações, as usinas
hidrelétricas, o capitalismo e o
"brutal bloqueio" norte-americano a Cuba. Ela descobriu que os
coxinhas tiraram a Dilma para "botar o Temer lá" porque ele é o chefe
da quadrilha e a Dilma ia estourar o ponto. A cada frase dessas, a galera
esgota o estoque daquelas figurinhas "emojis" com palmas, socos,
braços musculosos, polegares erguidos, sorrisos e corações. Juro que vi até um
burrinho, mas foi coisa de alguém que clicou errado.
Na opinião dela, o Temer tem que sair. É
um imperativo moral. Tão imperativo moral quanto a prisão de Sérgio Moro, a
absolvição imediata de Lula em todos os processos, a execução de Eduardo Cunha,
a volta de Dilma, a proscrição da Rede Globo e a capitalização da Carta Capital
em joint venture com o BNDES. Posta diante da questão - "Tirar o Temer
para pôr quem? - ela estufa o democrático busto e pede eleições gerais.
Grande ideia! Para funcionar, há que:
1º) mudar a Constituição; 2º) alterar todos os prazos já definidos; 3º) redigir
e aprovar as leis complementares necessárias para regrar o pleito; 4º) feito
isso, esperar que o TSE redefina as muitas questões que lhe cabe normatizar a
cada eleição; 5º) obter do governo a liberação dos tais R$ 3,6 bi ditos
imprescindíveis ao financiamento público da campanha. Sobre o fulano que vai
presidir a República durante esse tempo eu só sei que se não for
"companheiro" a tal internauta estará na rua com um cartaz "Fora
fulano".
Se o Congresso Nacional abraçar a
solução proposta pelo elevado discernimento político da moça, é certo que a
eleição fora de prazo vai acontecer realmente fora de prazo, lá por 2020. Fica
a dica para Maduro, que está muito a fim de evitar uma eleição direta
censitária.
Por falar nisso, ela é fã do Maduro.
Encanta-se com aquele jeito de Mussolini de opereta e com o vocabulário
"bolivariano" de 500 palavras. E está indignada (deve ter ouvido
orientações de Gleisi Hoffmann) com as críticas que os coxinhas fazem ao
camarada ditador da Venezuela sem terem ido lá para ver o que "realmente
está acontecendo". No post
seguinte, de modo coerente, recomendou ler o que se escreve lá fora sobre o
Brasil.
Tentei explicar que a Câmara dos
Deputados não julgou e menos ainda absolveu Michel Temer; esclareci que cabia
àquela Casa apenas definir se convinha ou não ao país que o presidente viesse a
ser julgado pelo STF naquele momento. E afirmei que novos fatos ou diferentes
circunstâncias poderão, no futuro, recomendar decisão diferente. Foi a conta!
Recebi um página inteira de emojis malcheirosos e fui bloqueado. Não consegui
dizer que em 2005 e 2006, quando estourou o mensalão e a Orcrim se tornou
conhecida, 33 pedidos de impeachment de Lula foram protocolados e arquivados na
Câmara dos Deputados. Nenhum de parlamentar. Por quê? Os políticos sabiam que
havendo eleição logo adiante, um processo de impeachment complicaria a cena
eleitoral, administrativa e econômica. As responsabilidades criminais seriam
tratadas na Ação Penal 470, no devido tempo e no foro adequado. O que de fato
aconteceu. Quem quer o circo pegando
fogo está noutro lugar e com a vida ganha.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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